Artigo 175 – As mortes em Gaza e a sua carreira

por Marcelo Veras | 11 de ago de 2014

 “De quem é a bala que mata?”

 Os balanços dos conflitos na faixa de Gaza são chocantes. O número de mortos aumenta a cada dia, principalmente, de civis inocentes. Escolas bombardeadas, idosos morrendo,  crianças sendo feridas sem nem sequer entender o porquê. Um verdadeiro absurdo em pleno século XXI. Aliás, olhando para determinadas posturas de pessoas e nações, sinto-me às vezes na idade média. É incrível como práticas tão antigas e ultrapassadas ainda reinam na cabeça de políticos, líderes e governantes. Triste e lamentável...

 Isso tudo me leva a pensar sobre o que faz com que essas coisas aconteçam – as causas. Obviamente os conflitos como este existem por diversas razões, inclusive religiosas. Mas, fundamentalmente a questão envolvida é a manutenção do poder. A posse da terra e velhas rixas ainda enchem aquele pequeno território de sangue que já se derramou em séculos de história. O fato é que determinadas disputas acabam envolvendo pessoas que nem sequer entendem suas razões.

 Ainda comovido com as mortes em Gaza, principalmente das crianças, fiquei pensando cá com meus botões sobre a responsabilidade por cada morte. Não só na responsabilidade direta, no caso, de quem deu o tiro ou apertou o botão para a bomba explodir. Mas também nas responsabilidades indiretas, como das pessoas que projetaram a arma, a bala ou o míssil. Esta é uma bela discussão. De quem é a responsabilidade pelo fato ou pelo acontece todos os dias em todas as latitudes? Ela pode ser imputada apenas aos envolvidos diretamente com o mesmo ou é de todos os que tiverem algum elo com quaisquer ocorridos? 

 Por exemplo, recentemente foram descobertos diversos locais com “trabalho escravo” envolvendo bolivianos que costuravam para grandes grifes de roupas. Pessoas vivendo em situação deplorável e sendo usadas para produção de peças cada vez mais baratas. A marca que compra e revende estas peças tem responsabilidade ou não? Quem compra produto de procedência duvidosa (carga roubada ou contrabando) tem responsabilidade sobre o nível de violência da sua cidade ou não? Os fabricantes de refrigerante têm responsabilidade sobre a poluição de garrafas de plásticos que poluem rios e mares? Quem projetou a bala que matou uma criança em Gaza é responsável ou não? Quem se omite ou se cala diante de uma injustiça tem culpa? Esta é uma boa discussão. Qual é a sua opinião? 

 Este tema é tão, mas tão complexo, que não dá nem para iniciar a conversa neste curto espaço, muito menos encerrar o tema. Mas creio que podemos (e devemos) refletir sobre esta chamada “responsabilidade indireta” sobre os fenômenos da vida e da carreira. O ser humano, por definição, tem a péssima mania de se apropriar das boas coisas e de terceirizar as ruins. É muito comum ouvir pessoas dizendo que a sua responsabilidade só vai até determinado ponto, principalmente quando o resultado final é ruim. Com certeza o cara que projetou o míssil vai dizer que o trabalho dele não tem nada a ver com isso. Ou pior, pode dizer que só cumpriu ordens e, portanto, não se sente culpado, como a imensa maioria dos comandantes que trabalharam com Hitler disseram no julgamento. “Não concordávamos em matar judeus, mas estávamos obedecendo ordens”. Nas empresas, quando o resultado final é ruim, vários dizem que a sua parte foi bem feita e que, portanto, não têm responsabilidade sobre o fracasso. Fácil, não é? Terceirizar responsabilidades é bem fácil.

 Fica aqui um convite para que você pense no assunto durante esta semana e forme o seu juízo. Na sua empresa ou departamento, qual é a sua responsabilidade sobre o resultado final? Qual é a sua responsabilidade quando você alimenta um boato ou fofocas e alguém é prejudicado com isso? Será que a sua responsabilidade começa e acaba somente nas suas tarefas?  Na minha humilde opinião, a nossa mão ajuda a construir ou destruir mais coisas do que conseguimos enxergar ou queremos assumir. Até o próximo!

por Marcelo Veras
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