Artigo 171 – A mentira e suas vontades

por Marcelo Veras | 14 de jul de 2014

“Mentiras têm vontade própria. Nunca duvide disso”

 Você já mentiu alguma vez na vida? Se a resposta (sincera) for não, só tenho uma coisa a dizer: Ou você acaba de mentir mais uma vez ou merece uma estátua em praça pública. Na boa, não acredito que alguém entre os 7 bilhões de habitantes deste planeta tenha esta virtude. Não seria correto afirmar que a mentira faz parte da vida de todos, mas não tenho problemas em afirmar que ela é uma tentação diária. Para alguns, até uma forma de proteção. Para outros, quase uma profissão. A mentira é uma entidade tão importante que ganhou até um dia no calendário (01 de abril). Você sabe qual é o dia da verdade? Não existe. E se existe, nem se fala.

 Pequenas mentiras, como responder que está tudo bem quando alguém nos pergunta se estamos com algum problema, ou dizer que gostamos de algo quando na verdade odiamos, mas simplesmente para não termos que explicar o porquê. Coisinhas bobas, mentirinhas bobas, que não fazem mal a ninguém. Que mal há nisso? Na verdade, existem mentiras e mentiras. Como quase tudo na vida, mentiras são relativas. Um amigo um dia me disse que “a mentira é necessária para o equilíbrio geral do planeta”. Segundo ele, “ela faz bem para algumas pessoas”. 

 Sabe o que acho? A mentira merecia uma tese de doutorado. O tema é tão intrigante que o termo gerou filhos no dicionário da nossa língua. Já ouvi pessoas dizerem que não mentiram, apenas omitiram. Olha que bacana! Este é o primeiro filho legítimo da palavra mentira, na minha visão. “Omitir é uma coisa, mentir é outra”, dizem muitos. Será? Deixar a verdade escondida, por ação ou omissão, não é a mesma coisa? Desculpem-me os que pensam assim, mas aos olhos de quem está sem a verdade, é literalmente a mesma coisa. A omissão é apenas um atalho mais “elegante” para pessoas que querem privar outros da verdade. Por acaso o efeito final é diferente? Não. Literalmente, NÃO. Mentindo ou omitindo, você está privando alguém da verdade. Ponto final.

 Bom, estou tratando deste tema hoje porque recentemente mais uma mentira (ou omissão, como queira) bateu à minha porta e me convidou para um café. Já convivi com várias ao longo da minha carreira (e vida), na dimensão profissional, pessoal e qualquer outra que possa imaginar. Se eu tentar fazer as contas de quanta gente já mentiu para mim, vou precisar de um super computador para calcular. Algumas mentiras se mostraram rapidamente. Outras nem tanto. Já fui tão incompetente neste assunto que convivi com algumas mentiras por alguns anos. Mas todas, literalmente todas, as que foram direcionadas a mim, por sorte ou o que quer que seja, sempre se mostraram, mais cedo ou mais tarde. Obviamente, como você pode imaginar, a decepção, a raiva e o “chute na canela” do mentiroso foram proporcionais ao tamanho ou ao tempo que elas demoraram a se apresentar. No fim, as contas sempre são pagas. Não existe almoço de graça.

 Hoje tenho uma convicção quase religiosa sobre a mentira. Acredito que ela tem personalidade e vontade própria. Quase uma pessoa. Ela é orgulhosa, não admite ser escondida e adora palcos e aplausos.  Portanto está sempre desafiando o seu dono, que teima em deixá-la escondida e apagada. Mas ela é teimosa e não aceita isso. Fica 100% do tempo atenta às brechas que o seu dono deixa. Como um cachorro que quer ir para a rua e fica só de olho na porta, até abrir a fresta suficiente para sair em disparada. Assim é a mentira. Ela quer palco. Quer aparecer. Uns donos são mais eficientes e conseguem manter a desobediente presa por mais tempo. Outros, mais descuidados, nem tanto. Mas  ninguém, absolutamente ninguém, consegue mantê-la fora do palco para sempre. Ela sempre dará um jeito de se mostrar. Nas relações profissionais, então, nem se fala. Até o próximo!

por Marcelo Veras
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