Artigo 15 – Passado x Futuro

por Marcelo Veras | 03 de abr de 2012

Enquanto e gente não abandona o passado o futuro não chega”

Começo este artigo fazendo a seguinte pergunta: - Que dimensão o passado merece ter no seu presente e no seu futuro? Eu tenho pensado muito nisso recentemente. E lembrei-me de algumas conversas e situações com pessoas próximas que potencializaram este assunto e me fizeram trazê-lo para esta discussão sobre carreira e competências.

Há duas semanas eu encontrei um ex-colega de trabalho em um vôo. Alguém que trabalhou comigo há nove anos e com quem eu tive um grande problema de relacionamento. Ao vê-lo no vôo, aquele clima estranho quando dois olhares se cruzaram foi inevitável. Um “oi” bem sem graça saiu da boca de cada um. Mas, para minha imensa surpresa, aconteceu algo inusitado. Eu não me lembrava sequer do nome dele. Pra falar a verdade, se eu não o tivesse encontrado novamente, talvez nunca mais me lembrasse da sua existência.

Esta minha “capacidade” de apagar o passado às vezes me assusta. Fico me perguntando se a minha memória é fraca ou se sou mesmo bem seletivo naquilo que fica e que desaparece do meu disco rígido. Já achei que fosse coisa de signo, embora não acredite muito nisso. Dizem que ninguém pisa na bola duas vezes com um escorpiano. Na primeira, a gente “deleta” a pessoa e não se fala mais nisso.

Independente de eu estar mais ou menos certo em relação à forma como trato o meu passado, quero aqui defender uma posição, fazê-lo (a) pensar no assunto e tirar as suas próprias conclusões. Eu realmente acredito que o passado deve ficar no passado. E vou defender este ponto de vista tendo como pano de fundo a frase que abre este artigo. Não me acho muito bom para criar frases filosóficas, mas esta foi bem feliz para demonstrar o que penso sobre isso. É uma visão prática, quase matemática. Ou você esquece o passado, ou o futuro nunca chega.

Eu conheço inúmeras histórias, no campo pessoal e profissional, em que pessoas, por absoluta falta de capacidade de deixar o passado no passado, travaram ou destruíram o presente e nunca conseguiram deixar chegar o futuro. Não sei bem explicar como e porque isso acontece, mas acredito que o peso do passado consome alguma parcela considerável de energia que nos impede de avançar ou nos leva para caminhos tortos. Uma pessoa que, ao ser demitida, alimenta raiva e rancor ao ponto de virar empresário (a) apenas para abrir concorrência com a empresa anterior. Uma pessoa que começa um novo relacionamento bem rápido com a primeira pessoa que aparece só para se vingar do (a) ex. Dois exemplos bobos, mas que eu já vi com os meus olhos e que acabaram sempre mal. Eu poderia citar vários outros, todos com final trágico. Todas, absolutamente todas as histórias que conheço onde o passado não foi deixado no seu devido lugar, acabaram mal.

Se você já foi, ou está sendo, vitima de algo semelhante, deve estar se perguntando: - E aí? O que fazer para não cair nesta armadilha? Recentemente e revista VEJA trouxe como matéria de capa o Perdão. Uma frase em particular me chamou muito a atenção logo no início da matéria. “É no esquecimento que se igualam a vingança e o perdão”, atribuída ao escritor argentino Jorge Luis Borges. Achei esta frase mágica, porque o traço comum que vi em várias histórias onde pessoas ficaram presas ao passado, envolvia raiva e/ou pena. E esta frase mostra qual deve ser o ponto de intersecção entre estas duas palavras que têm um potencial enorme de travar a vida de uma pessoa – o esquecimento.

No campo profissional, penso que uma carreira de sucesso se constrói com conhecimentos, atitudes e resultados. Toda essa construção nos leva, inevitavelmente, a alguns tombos ao longo desta cruzada. Eu não conheço ninguém que chegou a posições de liderança sem alguns tombos. Uns maiores, outros menores. Mas nunca sem tombos. Só que, o que pude observar na história dos grandes líderes, foi a capacidade de não se deixar travar pelo passado. Uma real compreensão de que o que passou, passou. E lá deve ficar. Um olhar sempre pra frente. Energia direcionada para o que virá e não para o que foi.

Simples no papel, difícil na prática. Não tenho a receita, e se tivesse, venderia bem caro. Acho que cada um deve descobrir a sua maneira de conseguir fechar a porta do passado, virar as costas e não olhar para trás. Mas posso dar uma pista. O melhor caminho, na minha visão, é se ocupar com o futuro. Não deixar na agenda um minuto livre que possa ser ocupado com o passado. E quando, por qualquer motivo, você se perceber pensando demais no passado, se pergunte: - O que estou deixando de fazer em relação ao meu futuro neste momento? Como certeza você verá que há muito a ser feito e que este tempo é precioso demais para ser gasto com coisas que ficaram para trás, que não mudarão e que merecem ser esquecidas.

Este ponto de vista pode ser perfeitamente criticado e as pessoas que fazem isso, chamadas de insensatas. Entendo e até aceito esta crítica. Mas, como tudo na vida, é uma questão de escolha. Matar o passado ou comprometer o futuro. Faça a sua. A minha já está feita.

por Marcelo Veras
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