"Para aprender, às vezes é preciso desaprender”
Mudança é comigo mesmo. Já trabalhei com pesquisa científica, produção de bens de consumo, telecomunicações, educação e tecnologia mobile. Trabalhei em empresa pública, privada familiar brasileira, multinacional britânica, sueca, mexicana, italiana e portuguesa. Coleciono 28 mudanças de casa e 13 de cidades. Já mudei de “melhor amigo” umas três vezes na vida. A minha bebida favorita (hoje, o vinho) também já mudou outras três vezes. Comidas que amava no passado, hoje ficam apenas na memória. Outras, que jamais ousei experimentar quando criança, hoje fazem parte do cardápio. Morei no nordeste, sul, sudeste e centro-oeste do Brasil. Em outras palavras, mudança é uma coisa que me persegue e algo que conheço relativamente bem. Já achei isso bom, ruim, bom de novo, ruim de novo e por aí vai. Mas hoje tenho uma certeza. Bom ou ruim, eu já vi muita coisa e tenho muita história para contar. Os meus netos vão se divertir no futuro.
A cada mudança de empresa, de área ou de cidade, surpresas, alguns sustos e muita, muita necessidade de adaptação. Novos processos, novas pessoas, novos procedimentos, novos produtos, novos clientes, novos concorrentes. Ao mudar de cidade, novas culturas, novos hábitos, novos climas, novas comidas. Posso dizer, tranquilamente, que pouca coisa me assusta, seja com pessoas, empresas ou sociedades.
Hoje quero trazer uma síntese dessa jornada que, no meu ponto de vista, os profissionais precisam enxergar, acreditar, entender e aplicar em suas carreiras. Não para sobreviverem a este mundo caótico e cheio de mudança, mas para saírem na frente dos seus concorrentes e aproveitarem as inúmeras oportunidades que aí estão. Digo isso porque as mudanças são, em última instância, oportunidades de crescimento. Tudo bem que o custo às vezes é bem alto, mas as oportunidades que as mudanças voluntárias ou que a vida nos impõe são inúmeras. Só que para poder aproveitá-las e sair de um processo de mudança mais forte, mais inteligente e mais rico, você precisa adotar uma postura que nunca foi educado para ter. Estou falando da capacidade de desaprender. Isso mesmo. Desaprender.
Aprender é bom. Todos nós vivemos em uma “ditadura” do aprendizado. Somos educados para aprendermos coisas e tentarmos manter este aprendizado pelo resto da vida. Ninguém ouviu algum dia de um professor a frase: - Na aula de hoje vamos desaprender isso ou aquilo. Já viu isso? Nunca.
Pois bem, hoje quero convidar você a desenvolver a capacidade de desaprender, ou seja, a capacidade de pegar algo que você conhece, sabe ou faz com frequência e esquecer. Deletar da cabeça. Fazer de conta que não existe mais.
Esta capacidade, olhando para a minha história de mudanças e para como estou hoje, foi determinante para ter usado a mudança ao meu favor. No início, já confessei, eu sofria muito quando chegava a uma nova empresa ou cidade e tinha que aprender coisas novas e, ao mesmo tempo, manter na cabeça o que eu tinha de conhecimento passado. Isso dava um curto circuito na minha cabeça. Era como se eu quisesse guardar novos dados em um pen drive que já estava cheio. Não dá. Isso me atrapalhava, atrasava o meu aprendizado do novo e me deixava sempre com a tentação de querer fazer coisas do passado. Até que um dia concluí que o melhor era “deletar” o que eu sabia. Esquecer. Desaprender.
Esta postura, que uso até hoje, me deixa com uma capacidade de iniciar um novo projeto (pessoal ou profissional) em uma velocidade que vejo em poucos. Este desapego com o passado me dá muitas vantagens. Pense nisso. Ao passar por um processo de mudança, seja lá qual for, desaprenda o que ficou para trás. Não tente levar determinados conhecimentos ou ferramentas para o novo. Não vai ser útil. Muito pelo contrário, vai atrapalhar a sua nova corrida. Vai ser um peso nas costas inútil. Livre-se dele. Desaprender às vezes é a solução. Até o próximo.