"É preciso sabedoria para identificá-las e coragem para se livrar delas”
Quanto mais o tempo passa, mais apuramos a nossa intuição e a nossa visão crítica das coisas e das pessoas. O passar da idade pode trazer muita coisa ruim em termos de saúde, disposição etc, mas também nos traz outras bem valiosas, como sabedoria e intuição. O tempo pune e premia ao mesmo tempo. Coisas da vida. Entretanto, para muitas pessoas, o tempo é cruel no sentido de transformar suas vidas em uma grande chatice, sem emoção, novas alegrias e novas experiências. Chamo isso da síndrome “mais do mesmo”. Em outras palavras, pessoas que ficam presas a coisas ruins, seja na sua vida pessoal ou profissional, e que perdem a oportunidade de darem grandes saltos na vida.
Muita gente que conheço, independente do sexo, religião, grau de instrução ou qualquer outra variável, paga um preço alto em suas vidas e carreiras simplesmente porque vivem com uma âncora amarrada no pé. Algumas nem conseguem enxergar que estão com este fardo. Outras enxergam, mas não conseguem medir o estrago que isso está trazendo. E outras, por fim, enxergam o peso, sabem que está travando a sua vida, mas não conseguem se livrar. Por falta de coragem ou porque não sabem se o fato de se livrarem de suas âncoras vai realmente mudar a sua vida. É mais ou menos como se dissessem a si mesmas: - Ah, devo merecer isso. É melhor me conformar. Ou pior: - Um dia isso melhora.
Existem vários tipos de âncoras. Relacionamentos amorosos fracassados, mas que são mantidos a altos custos emocionais só porque nenhum tem coragem de por fim. Empregos que só nos dá desprazer, desmotivação e que violentam os nossos valores diariamente, mas que são mantidos pela pseudosegurança que representam. É realmente estranho analisar (de fora, é claro, porque eu já tive as minhas âncoras também) como é possível existir tanta gente na rua andando com suas âncoras nos pés e relativamente conformadas com isso. Parece que todo mundo que tem uma âncora acredita que a vida é assim mesmo e não há algo melhor. E vão ficando, ficando e ficando. Como se o tempo fosse fazer algo...
Sei que o meu passado (9 empresas, 13 mudanças de cidades e 28 de casa) me condena, mas tenho sempre defendido que o mundo precisa de um pouco mais de ousadia e rebeldia. Refiro-me à coragem de mudar. De deixar algumas coisas para trás e buscar o novo. Tudo tem o seu ciclo. Tudo tem o seu fim. Tenho convicção, por experiência própria, que devemos constantemente olhar para o nosso pé e ver se não há ali uma âncora. Se ela estiver lá, algo precisa ser feito. Riscos de mudança precisam ser assumidos. Só assim a vida segue em frente e não vira uma grande inércia. Faço uma aposta com você. No início, uma mudança radical pode dar trabalho e medo. Mas logo logo a vida nova se consolida e segue em outra velocidade e em outro patamar de felicidade.
Pare e pense um pouco. A sua carreira está travada e sem perspectiva? Se sim, por que? Algum relacionamento seu (amoroso ou não) está travado e sem perspectiva? Se sim, por que? Você consegue explicar? Será que você não está com uma (ou mais) âncora amarrada no pé? Desculpe a sinceridade e intromissão, mas acho que pode estar sim. Não desvie o olhar. Encare de frente e comece a fazer algo para se livrar desse peso.
Algumas coisas que não estão bem até podem se resolver com o tempo. Mas se você analisar friamente alguns problemas, verá que eles são estruturais e mexem com valores pessoais. Estes, lamento informar, não vão se resolver nunca. Podem até dar uma folga por um tempo, mas voltam. E voltam cada vez piores. Portanto analise com calma, frieza e profundidade a sua carreira e a sua vida. Se alguma dimensão estiver travada e sem perspectiva, você pode estar sendo mais uma vítima desse mal. Se estiver, comece a pensar em como e quando vai mudar. A sua carreira e sua vida vão agradecer imensamente. Até o próximo!